A literatura de Bolaño está fortemente imbricada com a vida sua e da sua família - história sofrida, de fugas e assassinatos.
Roberto Bolaño é filho de León Bolaños, caminhoneiro lutador de luta-livre, e de Victoria Ávalos, professora de español, que fugiram do México para o Chile, em 1948, durante o governo de Miguel Alemán Valdés, após breve perseguição por sua oposição ferrenha no processo que levou às novas bases do partido no poder federal - cujo aspecto mais visível é a alteração do nome, de PRM para PRI, em 1946.
No Chile a vida da família Bolaño (que perdeu o S do final nos registros na alfândega chilena, por erro do escrevente) se estabilizou, ainda que estivesse longe de ser uma confortável vida pequeno burguesa. Tiveram a possibilidade de retornar ao México em 1964, durante o governo do primo de León, Gustavo Diaz Ordaz Bolaños, então presidente do país. Em setembro de 1973, logo após o golpe de Pinochet, León foi morto na primeira leva de assassinatos políticos, por ter se oposto ao locaute de caminhoneiros que paralisara o país até o golpe. Roberto estava no terceiro ano do curso de história, e teve que fugir às pressas com a mãe. Retornavam ao México.
No México começou o curso de jornalismo na UNAM, e em maio de 1974, graças a um primo que trabalhava na Televisa, conseguiu a vaga de correspondente do canal em Madrid. Se mudou com a mãe para a Espanha. Desde o início sua relação com o governo franquista foi muito tensa. Em setembro de 1975, Victoria foi morta ao reagir a um assalto, conforme versão oficial. Poucos acreditaram: ainda que não tenha sido provado, a suspeita de que havia sido assassinada pelo regime, em retaliação aos artigos críticos de Bolaño, foi tão forte a ponto de gerar uma breve crise diplomática entre México e Espanha, logo encerrada por conta da morte do ditador, em novembro. Não foi por isso que deixou a Espanha, indo morar, em 1977, em Barcelona, onde passou a ter existência errática, freqüentando o chamado "circuito beat" da capital catalã, e tentando viver de literatura. Foi em meados dos anos 1990, a partir de Estrella Distante, que conseguiu se firmar como proeminente autor e se estabilizar economicamente. Em 2000, contudo, descobre grave doença renal, e que se não conseguisse um órgão para transplante, teria algo em torno de três anos de vida. Passa a se dedicar, então, incansavelmente à redação de 2666, ficção com traços biográficos fortíssimos, que ele mesmo apresentava como sua obra prima.
2666 é dividido em cinco partes. É um romance histórico e político que, sem nomear claramente, trata do início do golpe militar no Chile e do fim do regime de Franco na Espanha. No meio, as perseguições legais no México sob o PRI. Isso sob o pano de fundo do escritor alemão Benno von Archimboldi, figura claramente inspirada na escritora Bettina von Arnim (tia do psicólogo Franz Brentano), porém como o lado escuro desta. Os dois infernos retratados por Bolaño, os dois 666, são o assassinato do pai e o assassinato da mãe por regimes totalitários, descritos em trechos de profunda dor. Por ironia do destino, Bolanõ faleceu quando era o segundo na lista de transplante, e 2666 foi publicado postumamente. Conforme o escritor catalão Enrique Vila-Matas, 2666 pode ser visto como "uma breve história último quarto do século XX".
Curiosidades: É consenso entre estudiosos da obra, 2666 seria, na verdade 2.666: duas vezes 666. Contudo a editora Anagrama, responsável pela primeira edição, encarou o ponto como divisão do milhar e não como sinal de multiplicação, consagrando assim o título.
Entre 1976 e 1978 Bolaños foi roteirista eventual nos programas humorísticos de seu primo, Roberto Bolaños, na Televisa, Chaves e Chapolin. Contam-se cerca de nove programas em que ele teria sido o principal roteirista. Talvez o mais famoso é o programa em que Chapolin e Super Homem dividem o mesmo hotel.
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